O perigo de se tratar um atleta como uma marca

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Por Túlio Pires Bragança

Neymar chocou o Brasil no último domingo. No meio de tanta reportagens sobre tragédias no Fantástico, apareceu ele fazendo um pronunciamento a nação em forma de publicidade provando que a pós modernidade Black Mirror chegou mesmo.

Com uma trilha sonora carregada no drama e um texto que vai da genialidade à filosofia de boteco em 90 segundos, o anúncio tenta fazer um mea-culpa e tocar em pontos em que a imprensa e o público geral criticam o menino Ney.

Desculpar-se em um anúncio publicitário pode parecer algo novo, mas o próprio Neymar fez isso com a Nextel em 2011, com uma pegada bastante parecida ao atual da Gillete, e Tiger Woods também já teve algo com a Nike.

Ao contrário de um sabão que não traz muitas expectativas, é descartável e posso trocar de marca como bem entender, ser o camisa 10 da seleção brasileira é um tanto mais complexo.

Neymar não é um produto mas faz um tempo ele se comunica como uma marca, daquelas muito mal assessoradas que vivem dando vexame no Facebook. Não dá entrevista, quando fala no Instagram conta uma narrativa irreal e bastante preocupante. É sempre um papo de todos contra mim que ninguém acredita mais.

Vivemos em tempos onde as pessoas estão famintas por verdade. Querem comportamentos e falas genuínas. O sensor pra nhenhenhém e conversinha pra boi dormir está aguçado demais. Neymar não consegue dar uma dentro. Realmente acham que vamos engolir essa papagaida mesmo? E a simbologia de que o arrependimento e a humildade viraram uma obra comercial?

Era mais genuíno quando ele dançava na propaganda da Seara com seu colega Ganso.

Ele precisa lembrar que é alguém que inspira as pessoas, desperta sentimentos, traz esperança, uma ideia de inovação e rebeldia. E tudo isso sendo um dos melhores jogadores do mundo. Não é pouco. As pessoas vestem a sua camisa de verdade, gastam dinheiro pra isso. Não lembro a última vez que vi pessoas tão apaixonadas por um desodorante a ponto de fazer isso. Marcas não despertam esse tipo de paixão.

Ultimamente ele não tem entregado tudo que as pessoas esperam. Sim, é uma carga enorme estar nesse lugar nesse momento, mas é exatamente nessa hora que os gênios se diferenciam. O Brasil sofre uma crise moral na política, está sem grandes ídolos no futebol, faz tempo que não ganha uma Copa. Óbvio que a cobrança será enorme, mas é nesse momento que os gênios fazem a diferença.

Daqui uns dias todo mundo esquece. Deixa de lado. Nem toca no assunto. Mostra no campo a sua resposta. Ou faz como o Ronaldo na época do incidente com os travestis. Ao invés de ganhar grana para falar numa publicidade roteirizada no Fantástico, chame os repórteres e realmente dê uma entrevista.

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Uma resposta para O perigo de se tratar um atleta como uma marca

  1. Senhores. Primeiro agradecer pelas crônicas que encontramos nesse espaço, remontando o que há de melhor no jornalismo esportivo. E aproveitar a oportunidade para perguntar se teremos novos textos nessa Copa América! Um abraço!

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