O perigo de se tratar um atleta como uma marca

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Por Túlio Pires Bragança

Neymar chocou o Brasil no último domingo. No meio de tanta reportagens sobre tragédias no Fantástico, apareceu ele fazendo um pronunciamento a nação em forma de publicidade provando que a pós modernidade Black Mirror chegou mesmo.

Com uma trilha sonora carregada no drama e um texto que vai da genialidade à filosofia de boteco em 90 segundos, o anúncio tenta fazer um mea-culpa e tocar em pontos em que a imprensa e o público geral criticam o menino Ney.

Desculpar-se em um anúncio publicitário pode parecer algo novo, mas o próprio Neymar fez isso com a Nextel em 2011, com uma pegada bastante parecida ao atual da Gillete, e Tiger Woods também já teve algo com a Nike.

Ao contrário de um sabão que não traz muitas expectativas, é descartável e posso trocar de marca como bem entender, ser o camisa 10 da seleção brasileira é um tanto mais complexo.

Neymar não é um produto mas faz um tempo ele se comunica como uma marca, daquelas muito mal assessoradas que vivem dando vexame no Facebook. Não dá entrevista, quando fala no Instagram conta uma narrativa irreal e bastante preocupante. É sempre um papo de todos contra mim que ninguém acredita mais.

Vivemos em tempos onde as pessoas estão famintas por verdade. Querem comportamentos e falas genuínas. O sensor pra nhenhenhém e conversinha pra boi dormir está aguçado demais. Neymar não consegue dar uma dentro. Realmente acham que vamos engolir essa papagaida mesmo? E a simbologia de que o arrependimento e a humildade viraram uma obra comercial?

Era mais genuíno quando ele dançava na propaganda da Seara com seu colega Ganso.

Ele precisa lembrar que é alguém que inspira as pessoas, desperta sentimentos, traz esperança, uma ideia de inovação e rebeldia. E tudo isso sendo um dos melhores jogadores do mundo. Não é pouco. As pessoas vestem a sua camisa de verdade, gastam dinheiro pra isso. Não lembro a última vez que vi pessoas tão apaixonadas por um desodorante a ponto de fazer isso. Marcas não despertam esse tipo de paixão.

Ultimamente ele não tem entregado tudo que as pessoas esperam. Sim, é uma carga enorme estar nesse lugar nesse momento, mas é exatamente nessa hora que os gênios se diferenciam. O Brasil sofre uma crise moral na política, está sem grandes ídolos no futebol, faz tempo que não ganha uma Copa. Óbvio que a cobrança será enorme, mas é nesse momento que os gênios fazem a diferença.

Daqui uns dias todo mundo esquece. Deixa de lado. Nem toca no assunto. Mostra no campo a sua resposta. Ou faz como o Ronaldo na época do incidente com os travestis. Ao invés de ganhar grana para falar numa publicidade roteirizada no Fantástico, chame os repórteres e realmente dê uma entrevista.

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Sobre os azuis, e sobre o futuro

Por André de Leones.

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Indo direto ao ponto: ontem tivemos uma bela final para um belo Mundial. Auxiliada pela arbitragem (que inventou uma falta perto da grande área), pela sorte (o cabeceio de Mandzukic contra o próprio gol) e por uma interpretação problemática da regra (pênaltis daquele jeito são habitualmente marcados, e o problema está na orientação da chefia para que isso aconteça), a França terminou o primeiro tempo em vantagem. Mas, desde o começo, a Croácia não se escondeu, deixando bem claro que ganharia ou perderia em seus próprios termos, e boa parte da supracitada beleza da coisa se deveu a isso.

Não houve espaço para o acaso ou a sorte nos gols seguintes da França. O terceiro foi brilhante desde o longo e certeiro lançamento de Pogba para Mbappé e a tranquilidade com que Griezmann ajeitou até a finalização do próprio Pogba, já posicionado para investir contra a jugular croata. Pogba, ainda mal aproveitado no Manchester United de Mourinho, é o proverbial meio-campista box-to-box, que cobre boa parte da extensão do campo, defendendo, criando e atacando. Não há nada parecido com isso na seleção brasileira.

O terceiro gol chamou a atenção tanto para as qualidades individuais quanto para o trabalho coletivo (agressivo e sem firulas) dos franceses. No Brasil, ainda são muito disseminadas as noções de que o pragmatismo e a verticalidade “enfeiam” o futebol e de que haveria uma forma “brasileira” de jogar (“criativa”, “moleque”, “dibradora”, “imaginativa”), a qual estaríamos sempre em vias de perder (alguns dizem que ela morreu em 82, outros batem palminhas a cada carretilha ou pedalada inócua nos confins do campo). Por aliar criatividade e objetividade, esforço conjunto e talentos individuais, a França não só “mereceu” seu bicampeonato como demonstrou, didaticamente (detalhe: muitos times fizeram e fazem isso pelo mundo afora), que é preciso obter e manter um equilíbrio constante entre tais e tais elementos para se chegar a algum lugar.

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“O senhor ponha-se daqui para fora, isso não é Libertadores!”

Tal equilíbrio também pôde ser verificado na Croácia, muito embora o seu jogo seja menos reativo, acelerado e vertical. Ou, melhor dizendo, as acelerações são pontuais pela maneira como os jogadores se posicionam em campo e propõem o jogo. Há uma conversa mais prolongada entre os dentes da engrenagem. (É uma pena que, ontem, Modric não tenha encontrado tanta interlocução quanto gostaria — e ele a buscou intensamente–, e muito disso se deve à forma como a primeira metade do jogo se desenrolou.)

No entanto, nem mesmo aquele primeiro tempo atabalhoado ou a França abrindo 4×1 no placar obscureceu a beleza do confronto, o diálogo franco entre dois modelos obviamente bem-sucedidos e as possibilidades que eles ensejaram no decorrer do jogo e, claro, para o futuro. Mesmo que hoje não tenhamos uma nova seleção entre as campeãs, a Copa da Rússia explicitou aspectos muito interessantes da evolução do esporte, seja por meio de equipes limitadas, mas muito bem montadas e treinadas (Marrocos, Dinamarca, Irã), seja mediante o questionamento de posturas e ideias engessadas, que resultaram na desclassificação de gigantes como a Alemanha, a Argentina e o próprio Brasil (para não citar Itália e Holanda, que morreram nas Eliminatórias).

Em se tratando de Brasil, no limbo entre a decepção catastrofista e a arrogância típica dos pachecos (na transmissão global de ontem, já ouvi os comentaristas falando cheios de certezas verde-amarelas sobre a Copa de 2022), há que se encontrar espaço para o reinício do trabalho, a recuperação de ideias que deram certo, a observância dos modelos alheios bem-sucedidos e a reflexão sobre o caminho a seguir em vista dos atletas à disposição, agora e no futuro próximo — dos atletas em melhores condições a cada convocação, bem entendido, não dos ungidos pelo treinador.

Estou desde já ansioso para ver se e como a seleção brasileira evoluirá (oi, Copa América), acompanhar a resposta alemã ao vexame na Rússia (a Eurocopa é logo ali), conferir a propalada reconstrução italiana, rever a Bélgica e reencontrar a Holanda, seguir de olho na jovem seleção inglesa, assuntar se e como a seleção argentina ressurgirá das cinzas, em suma, percorrer todo o caminho até o Catar, sem pressa, vendo o que há para ser visto e saboreando cada lance e cada partida com os olhos e o coração bem abertos.

Sigamos.

 

 

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França, Croácia, feijão e arroz

por Fernando Jasper

Esquema tático revolucionário? Não.

83% de posse de bola e 94% de precisão no passe? Não.

Esquadrão que encantou, ou amedrontou, o mundo? Também não.

Depois de duas Copas vencidas por times badaladíssimos, que para o bem ou para o mal pareciam estar reinventando o jogo, teremos neste domingo uma final de feijão com arroz.

(O que significa, antes de mais nada, que pelos próximos quatro anos seremos poupados de aporrinhação sobre a “nova ordem” do futebol mundial e bobagens assim. Eu espero.)

De um lado, um time com gente boa em todos os setores do campo e que, no geral, vem justificando a fama. A França faz o básico, e faz bem, porque tem material humano para isso. Porque seu treinador não tenta se fazer de gênio e porque esse material não decepcionou, ao contrário da maioria de outros bambambãs do Mundial, que não perderei tempo citando.

Para o espectador desinteressado, a França só divertiu quando jogou seu melhor e pior ao mesmo tempo, na vitória por 4 a 3 sobre a Argentina. Mas, sejamos justos, ninguém está ali para entreter. Depois de uma primeira fase protocolar– que encerrou com o único 0 a 0 da Copa, uma coisa lamentável contra a Dinamarca – e daquele sábado emocionante contra os argentinos, a França que passou por Uruguai e Bélgica foi um time sólido, que mal tomou sustos e fez o que precisava sem muita contestação.

É favorita. Mas também era contra Portugal na Eurocopa que perdeu em casa há dois anos. E seu adversário neste domingo é melhor que o daquela vez.

A Croácia é a zebra. Mas não é “o time desacreditado que surpreendeu a todos e chegou à final”. Mostrou o cartão de visitas no amistoso que perdeu para o Brasil dias antes da Copa e foi elogiada antes da estreia por gente que respeito. Conheço dois caras que, ao fim da primeira fase (e que fase!), já apostavam que ela chegaria à final.

É claro que, para ir tão longe, ela se beneficiou do fato de cair na chave mais fácil do mata-mata. Mas quem hoje ousaria dizer que os croatas tiveram moleza?

Tenho minhas reservas quanto às preferências políticas que alguns jogadores fazem questão de exibir. As repúblicas que surgiram da finada Iugoslávia, sabemos, são uma fonte abundante de controvérsias. E nem Modric, que como tantos colegas carrega uma história de provações e superações da época da guerra, está livre de histórias mal contadas.

Mas, futebol pelo futebol, é um presente ver na final um time que passou por três prorrogações e duas disputas de pênaltis. Na prática, os croatas jogaram uma partida a mais que os franceses – e pergunte se alguém pediu arrego.

Uma equipe que representa um país de 4 milhões de habitantes, uma espécie de Uruguai da Europa, com estrutura precária para o futebol, nas palavras do próprio treinador. Treinador este que, chamado às pressas e sem contrato, conheceu seus atletas no aeroporto, a caminho da última rodada das eliminatórias – eles então derrotaram a Ucrânia e conseguiram vaga na repescagem, quando eliminaram a Grécia.

É o triunfo do caos e da persistência. Mas não só isso. Embora não tenha o tempero do cassoulet francês, a Croácia também joga bola. Simples, sem recorrer à violência nem à retranca.

Será divertido. Eu espero.

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Sic semper Belgium

Lloris

John Williams musicaria isso

E aí? Tudo bem? Como foi seu dia? O meu foi assim: tive uma reunião de trabalho às 14 horas, reunião que milagrosamente terminou menos de uma hora após começar, de tal modo que consegui OUVIR o primeiro tempo de França 1×0 Bélgica no Uber que me trouxe até aqui (olá, Humberto Gessinger) e assistir ao segundo no aconchego do meu sofá, pensando na prorrogação e nos penais que não vieram.

Não se pode ter tudo, não é mesmo?

E que primeiro tempo, não? O locutor já meio roufenho berrando com aquela defesa de Lloris no momento em que o carro foi engolido pelo túnel (qual, meu Deus?) (eu só tinha OLHOS para o rádio), a voz desaparecendo aos poucos e deixando no ar a ideia (nem vou dizer imagem) do que ela teria sido (e foi), como se um respeitoso minuto de silêncio pelo voo do guardador-de-redes tivesse sido instituído em todas as rádios do mundo.

(Especialmente nas belgas.)

Pelo que ouvia, a Bélgica pressionava mais e melhor, com Hazard correndo pelo que me remetia a um jardim de fernandinhos — até que o locutor parou de dizer o nome dele. E, pelo que pude imaginar, a partir do momento em que conseguiram sufocar Hazard, os franceses ganharam corpo e equilibraram o jogo. Havia menos espaços e quase nenhum escape pela esquerda belga, e Pavard (após receber um passe de Mbappé, o que gerou mais berros do locutor) só não abriu o placar porque Courtois também estava presente, e trabalhando.

Para o segundo tempo, pude fazer algo que Fellaini não pôde: contar com os meus olhos. Porque aquela bola, alçada via escanteio por Griezmann, devia ser dele, não de Umtiti. Ele não viu o zagueiro francês rugindo em direção à bola? O gol da França fez com a Bélgica o que o gol belga fez com o Brasil na fase anterior: desorganizou, enervou, descompensou. De repente, lá estava De Bruyne errando passes que geravam contra-ataques que quase geravam o segundo gol adversário. De repente, lá não estava Hazard, não mais — e, sejamos justos, num dos poucos momentos em que esteve, sofreu uma falta muito, mas muito perto da área, infração absurdamente ignorada pelo juiz.

Previsível e cada vez mais abrasileirada, a Bélgica insistia nos mesmos movimentos (quando estes não eram abortados no meio do caminho): De Bruyne vinha pelo meio, penteava um pouco a bola e depois tocava para Chadli ou Mertens, que lançavam a infeliz na área e (presumo) rezavam para que Fellaini ou Lukaku a alcançassem. De vez em quando, alguém se lembrava de Hazard, mas a forte marcação impedia quaisquer desdobramentos maiores ou mais perigosos. A bola batia e voltava, ou girava bestamente até que alguém cometesse um erro.

A previsibilidade ofensiva sempre dá a impressão de que os defensores operam em uma velocidade mais alta, mais ligados, focados ou coisa que o valha. Adiantam-se sem dificuldade aparente, anteveem, defletem, tomam, afastam quaisquer possibilidades de perigo. A ameaça do empate estava no ar, é claro que estava, um cabeceio de Fellaini aqui, um chute de Witsel ali, mas, passada a tormenta, fica a impressão de que eles poderiam estar lá até agora, impossivelmente dando prosseguimento ao jogo, e o placar continuaria o mesmo (ou talvez a França tivesse marcado o segundo). É a minha impressão, pelo menos.

Para resumir a coisa (amanhã tem Inglaterra vs. Croácia e precisamos repousar), na maior parte do segundo tempo, enquanto a França controlava o jogo, a Bélgica entrevia a partida de sábado, a melancólica disputa pelo terceiro lugar, esfregava os olhos, dizia NÃO, debatia-se, desesperava-se, mas era — foi ou pareceu ter sido — inevitável.

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Obituário

Por André de Leones.

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Observem a cabeça de Kompany alterando o campo gravitacional

Não fosse pela companhia de De Bruyne, Fernandinho seria o homem mais solitário do mundo. Perdido no miolo de uma composição tática que era (furtando a expressão do narrador Rômulo Mendonça) um autêntico convite ao prazer (dos adversários), o volante brasileiro testemunhou a liberdade com que seu companheiro de clube se movimentava na intermediária. Sozinho ali, ele não podia — não pôde — fazer muita coisa.

Mas, antes de discorrer sobre o falecimento brasileiro, talvez seja melhor dar uma olhada na equipe adversária. No jogo anterior, contra o Japão, em desvantagem no placar, o técnico Roberto Martinez trocou Carrasco (que fazia uma partida horrorosa) e Mertens (que sequer parecia em campo) por Fellaini e Chadli, e a Bélgica transformou um constrangedor 0x2 em um belo 3×2. Para o jogo contra o Brasil, ciente da habilidade dos nossos meias e atacantes, Martinez optou (não foi uma escolha difícil, certo?) por manter aquelas duas peças na escalação titular. Fellaini não é apenas um enorme cone cabeludo que, de vez em quando, em lances de bola aérea, serve Lukaku ou escora para o fundo das redes. Com ele à frente de uma problemática linha de três zagueiros (misery loves Kompany), o time adquiriu algum equilíbrio e, em se tratando do jogo de ontem, permitiu que De Bruyne deslizasse (desfilasse?) por entre as linhas brasileiras. Em suma, Martinez percebeu um problema e tratou de corrigi-lo; “ousando” insistir no que havia dado certo, venceu mais uma vez.

Tite, por sua vez, ignorou os problemas (a inutilidade de Gabriel Jesus e Willian, a previsível e propalada solidão de Fernandinho) e, quando tentou corrigi-los, errou de novo (Gabriel Jesus caindo pela direita?!). A falácia de que a opção por Jesus em detrimento de Firmino era de ordem tática é exatamente isso: uma falácia adenorista. Firmino faz tudo o que o outro supostamente fazia (apoio à marcação, roubos de bolas, abertura de espaços, “flutuação”), e melhor. Muito melhor. Por exemplo: além de apoiar, roubar, abrir, “flutuar”, Firmino faz gols.

(Um atacante que faz gols. Uau. Que conceito.)

E aqui eu me lembro de Lukaku. Na Copa de 2014, após (salvo engano) duas atuações ruins, e até como forma de preservá-lo (tinha apenas 21 anos na ocasião, mesma idade de Jesus hoje), Lukaku foi para o banco. Quatro anos depois, sem o peso de um fracasso anterior, todos vimos — estamos vendo — do que ele é capaz. Jesus, por sua vez, visivelmente imaturo e incapaz de fazer agora o que se espera(va) dele, foi sacrificado graças à teimosia de um treinador que, remetendo ao intolerável Dunga, parecia incapaz de repensar suas escolhas.

Óbvio que Tite não é tão ruim quanto Dunga. De forma alguma. Até porque Dunga sequer é um treinador de futebol. Não. Tite é um profissional inteligente e bem informado, agora também escaldado, que (acho) deve ser mantido no cargo e passar por todo o chamado “ciclo”, desta Copa à seguinte. Duvido que, no futuro, continue aferrado a determinadas certezas, que não pense duas vezes antes de elogiar a “importância tática” de um jogador eventualmente imprestável, que não lide melhor com a imbecilidade de Neymar etc. e tal.

Mas, diabos, falemos do jogo de ontem.

Nele, foi curioso como o Brasil voltou a odiar a bola. Após aquele bom segundo tempo contra o México, Willian readquiriu o velho hábito de desaparecer, Fagner estendeu um tapete vermelho para a excelência de Hazard (Fagner, que sofrera com Vela no jogo anterior) (VELA!) e Marcelo estava em toda parte, exceto onde sua presença era necessária. Após alguns lances promissores, contando inclusive com a capacidade da defesa belga de flertar com o desastre (ah, aquela bola na trave…), bastaram um escanteio e um contra-ataque movido por cabeças e pés talentosos (sim, eu também senti saudades do México e sua “pressão” estéril, sua ineficiência ofensiva) para que Tite contemplasse o abismo, e o abismo, é claro, olhasse de volta. E sorrisse.

O primeiro tempo poderia facilmente ter chegado ao fim com um 3×0 no placar. O que foi aquela falta, por exemplo? De Bruyne olhando para os dois (dois?!) brasileiros na barreira e quase depositando a bola no ângulo direito de Alisson. Por sorte, a bola não fez a curva esperada e o goleiro espalmou para fora. E nem vou falar de Kompany quase marcando de calcanhar.

A pressão brasileira na segunda etapa não foi, é claro, completamente inútil. Renato Augusto marcou um belo gol de cabeça e teve a oportunidade de empatar o jogo. Coutinho, servido por Neymar, também procurou o gol, mas não o encontrou. Courtois defendeu uma bomba de Neymar. Diante da desorganização ofensiva e da sofreguidão tupiniquins, a Bélgica se fechou e defendeu como pôde. Seus meias e atacantes, cansados, tentaram, mas não conseguiram puxar o contra-ataque que levaria ao terceiro gol. E, ao final, afinal, a seleção brasileira morreu da mesma forma como havia nascido nesta Copa (aquele empatezinho com a Suíça, lembram?): no escuro, ignorante de si e dos outros, e em silêncio.

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Quem ganhará a Copa? Alguns palpites e um pesadelo

por Fernando Jasper

“Criticar é fácil” (Margie Simpson)
“E divertido” (Homer Simpson)

Tive um pesadelo esta madrugada, horas depois de concluir o texto abaixo. Sonhei que tentava preencher na planilha do Google minhas apostas para as quartas-de-final da Copa, mas o palpite que eu escrevia ora era derrubado para a célula abaixo, ora deslocado com carga faltosa para a célula da esquerda ou então a da direita. Não consegui identificar o agressor.

A aposta era, digamos, dissertativa. Era preciso indicar não só o resultado, mas as circunstâncias. Mais perturbador é que eu tentava descrever, no bolão das quartas, um lance envolvendo James Rodríguez e sua Colômbia, que, você sabe, não passaram das oitavas.

Depois de acordar, não consegui retomar o sono. A cada pouco me vinha a frase enigmática do zagueiro Mina (e o verso teus cabelo é da hora): “Se vocês soubessem o que aconteceu nas oitavas-de-final da Copa do Mundo da Fifa Rússia 2018TM, ficariam enojados”.

***

Dois dias sem Copa e a pessoa está assim. Imagine quatro. Anos. E meio (a Copa do Catar será em novembro e dezembro de 2022).

Pode ser coisa do antibiótico. Vou ler a bula.

Ah, sim. O texto.

***

O histórico da Alemanha em território russo talvez devesse inspirar mais cautela. Mas uma seguradora entende de cautela, concorda? Uma grande seguradora entende muito. Uma das maiores do mundo, então, definitivamente sabe o que está fazendo.

Foi munida desse conhecimento todo que a alemã Allianz, às vésperas da Copa, se negou a vender apólices para varejistas de seu país que prometiam prêmios aos clientes caso a Alemanha faturasse o pentacampeonato.

Resumidamente, as lojas queriam contratar um seguro para o caso de a seleção alemã vencer e elas terem de presentear os consumidores. Mas, para a Allianz, era óbvio que a Alemanha venceria e, consequentemente, ela teria de bancar a farra. Então a seguradora, cautelosa que é, decidiu não vender apólice alguma. E deixou de faturar uma boa grana, pois, como sabemos agora, os alemães – mais uma vez – foram derrotados na Rússia.

Allianz, UBS e Commerzbank apostaram na Alemanha (de verde na foto acima)

“Claramente nossos dados estavam errados. Entretanto, antes do evento eu creio que qualquer um acreditava que a Alemanha era a favorita”, admitiu um executivo da empresa, conforme o relato da Dow Jones Newswires.

Note que primeiro ele fala em “nossos dados” (o que dá um caráter científico à coisa, e se tem alguém munido de dados, de probabilidades, de estatísticas, esse alguém é uma seguradora), mas depois acrescenta que “qualquer um acreditava” no favoritismo alemão. Sem querer, equiparou os robustos softwares da companhia à vaga intuição de quem arrisca vintão no bolão da firma.

(Dizem que alemão não é teimoso; teimoso é quem teima com um alemão. Então sigamos.)

***

Teve mais gente graúda falando em “nossos dados”, “modelagens estatísticas” e afins para palpitar sobre a Copa.

Usando uma “medição objetiva” do nível de habilidade das equipes, o banco suíço UBS definiu como favoritas, pela ordem, as seleções de Alemanha, Brasil e Espanha.

O japonês Nomura aplicou a “teorias de portfólio” e “hipóteses de mercados eficientes” para apostar numa final entre França e Espanha, com Brasil caindo nas semifinais.

A França de Mbappé é a aposta do banco japonês Nomura

O alemão Commerzbank, processando os números e modelando os dados, deu 18% de chances para a Alemanha e 13% para o Brasil, seguidos por Espanha, Argentina, França e Inglaterra.

Sem muita firula, o holandês ING estimou o valor de mercado dos jogadores e concluiu que a Espanha, por ter o time mais valioso, ganharia a Copa.

A Espanha foi a escolhida do holandês ING

Mas a aposta que eu mais gosto é a do norte-americano Goldman Sachs. Por dois motivos:

1) A metodologia exemplar, que não ouso resumir:

“A equipe global de pesquisa macro do Goldman Sachs optou por usar algoritmos de inteligência artificial para conduzir sua análise. Nós fornecemos dados sobre as características da equipe, jogadores e desempenho recente em quatro tipos diferentes de modelos de aprendizado de máquina para analisar o número de gols marcados em cada partida. Os modelos então aprendem a relação entre essas características e os gols marcados, usando os placares de jogos da Copa do Mundo e da Eurocopa desde 2005. Percorrendo combinações alternativas de variáveis, temos uma noção de quais características são importantes para o sucesso e quais permanecem no banco. Em seguida, usamos o modelo para prever o número de gols marcados em cada encontro possível do torneio e usar a pontuação não arredondada para determinar o vencedor.”

2) A coerência.

É que, por mais dados que a valorosa equipe do Goldman enfie nos processadores, o resultado final é sempre o mesmo: vai dar Brasil. O banco apostou na nossa seleção em 2006, 2010 e 2014, e cravou canarinho de novo em 2018.

O Goldman Sachs é o mais coerente em suas previsões. A cada Copa e em qualquer cenário, o campeão é sempre o mesmo

Houve algumas mudanças no decorrer desta Copa. Antes do início, o Goldman apostava que o Brasil venceria a Alemanha na final pelo insuspeito placar de 1,7 a 1,4. Pouco antes do encerramento da primeira fase, sob o efeito da Coreia do Sul, modificou a final para Brasil x Inglaterra, com título verde e amarelo.

E agora, enquanto tomo o cuidado de checar as bobagens que vou publicar, descubro que o banco atualizou seu palpite de final para Brasil x Croácia, também com vitória brasileira. Os croatas, segundo os magos das finanças, vão derrotar a Inglaterra na semifinal. A atualização data de terça-feira, dia 2, véspera da vitória inglesa sobre a Colômbia.

Notas

1. A título de referência, o Goldman Sachs é um dos protagonistas da crise financeira que estourou há dez anos. É um daqueles bancos que empacotaram e reempacotaram à exaustão créditos imobiliários podres e só não implodiram o mundo porque foram socorridos por bilhões de dólares dos cofres públicos – e hoje estão mais vivos que nunca. Envolvidos na mesma ciranda, UBS, ING e Commerzbank também foram salvos pelos contribuintes. O Nomura, por sua vez, aproveitou aquela crise para comprar fatias de bancos norte-americanos à beira da falência.

2. Caso você tenha chegado até aqui e, pior, esteja à espera dos meus palpites, aí vão. Em um bolão, no qual indiquei – antes do início da Copa – os quatro primeiros colocados, apostei em França, Argentina, Brasil e Alemanha, nessa ordem. No outro, com apostas concluídas após o fim da primeira fase, fui de Brasil, Espanha, Uruguai e Inglaterra. Ria à vontade. Mas tenho a consciência tranquila: nenhum animal, computador, modelo matemático ou Neymar foi ferido na produção desses palpites.

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Coisas belas e sujas

Por André de Leones.

Shaqiri

Esse anão é um gigante, mas não deu.

1. A filha de um amigo estuda em uma escola suíça. Ontem, almoçando em casa no momento em que a TV exibia o clássico SUISUÉ, ele se surpreendeu ao vê-la pular de alegria quando o chute de Forsberg foi desviado e a bola encontrou o gol: Suécia 1×0. Ao que parece, a tal escola alimenta mesmo o amor das alunas pela Suíça.

2. Vi as duas partidas de ontem em bares, coisa que não me atrevo a fazer em se tratando de jogo da seleção brasileira. O Pacheco é o animal mais chato — e deprimente — que existe. Basta-me a vizinha histérica, urrando ignominiosamente com simples cobranças de lateral no meio do campo (não importa se contra ou a favor).

3. Embora alguns amigos tenham reclamado, curti o “clássico” supracitado. Incrível como a Suécia se organizou após a saída de Ibrahimovic. Com um meio-campista talentoso em Forsberg, e ainda que não possua um atacante matador, é uma equipe extremamente difícil de ser batida. Ontem, eles conseguiram isolar Shaqiri na ponta direita e forçar os suíços a insistir em lançamentos estéreis e chutes de longa distância. Estou muito curioso para vê-los contra a Inglaterra. Com Sterling e Dele Alli atuando mal, Harry Kane provavelmente terá de voltar mais e mais vezes para buscar o jogo, facilitando a marcação adversária, uma vez que os outros não têm conseguido se movimentar com um mínimo de inteligência. “Jogo chato”, dirão. Mas, em determinadas circunstâncias, até a chatice tem lá a sua beleza.

4. A Colômbia enfrentou a Inglaterra sem dois de seus melhores jogadores: James Rodriguez, lesionado, nem entrou em campo; Quintero entrou, mas cometeu tantos erros que seria melhor se tivesse ficado de fora. Catimba, reclamações, porradaria: das duas seleções (exceto pelos minutos finais do tempo regulamentar e no decorrer da primeira etapa da prorrogação), só a Inglaterra parecia disposta a jogar futebol. A Colômbia “sujava” a partida aqui e ali, mas nem mesmo isso me pareceu impróprio ou condenável. Tanto que o gol de empate nos acréscimos e todo o estresse do tempo extra e das penalidades máximas não soaram como castigos severos demais para os ingleses. Seja como for, e rompendo com a “tradição” de ser eliminada em circunstâncias assim (jogar como nunca, perder como sempre), a Inglaterra avançou.

5. Anteontem, belo foi o contra-ataque belga que trucidou os esforçados japoneses. A seleção de Roberto Martinez entrou em campo sem a intensidade que se esperava. Com uma defesa lenta e as linhas muito distantes umas das outras, ofereceu campo e oportunidades ao Japão. Em momentos, pareciam disputar não uma partida de mata-mata em Copa do Mundo, mas um maldito amistoso no oco de uma “data FIFA” qualquer. Quando deram por si, perdiam por 2×0. Martinez não pestanejou: colocou Chadli e Fellaini em campo e o time passou a investir desavergonhadamente no jogo aéreo. Alguém (Tata Martino?) disse certa vez  que você só cruza bolas na área quando acabam as ideias. Não penso dessa forma. Dadas as circunstâncias, e levando-se em conta o adversário (Japão, nanicos), foi a melhor saída. Ademais, é interessante notar que a virada se consumou não com outra bola vadia vindo do alto, mas com um contra-ataque velocíssimo e feroz, desde as mãos de Courtois até o arremate de Chadli, quando os japoneses pareciam crentes de que a prorrogação era incontornável. Ou seja, as ideias não tinham acabado.

6. Ainda sobre o terceiro gol belga: bela também foi a ação de Lukaku ali, seu posicionamento engolindo a defesa e permitindo a infiltração de Chadli (a quem assistiu com um toquezinho maroto).

 

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Gostar da bola para gostar do jogo

Por André de Leones.

Bobby

Deixa vomigo

 

Desde que me entendo por gente, ouço o Oráculo Global falando em “gostar do jogo”: “Não deixa eles gostarem do jogo!”; “O Brasil começa a gostar do jogo!”. Hoje, em boa parte do primeiro tempo dessa vitória brasileira por 2×0, graças a um trabalho louvável de seus jogadores, o México gostou bastante do jogo. Já o Brasil, mais do que desgostar do jogo, parecia odiar a bola.

Fagner e Filipe Luís sofreram um bocado com os pontas adversários, Paulinho (em sua melhor partida) fez alguns desarmes importantes, mas todos atuavam a uma velocidade abaixo do aceitável e, no caso dos laterais, mal posicionados e desprotegidos. As péssimas escolhas se acumulavam. Passes errados, lançamentos estéreis, opções incompreensíveis. O meio-campo era mexicano, e eles invertiam bolas e trocavam passes (mais do que passes: ideias), muitas vezes com profundidade, sem maiores problemas.

Ocupar espaços jamais é algo simples em uma partida desse nível, e a sorte do Brasil é que o gegenpressing aos poucos exaure qualquer equipe. Além disso, os mexicanos não aproveitaram as chances que tiveram para inflamar o nervosismo brasileiro com um golzinho (sigo curioso para saber se e como a seleção de Adenor reagiria caso se visse em desvantagem no placar). Não foi apenas sorte: Thiago Silva e Miranda se atiraram contra a bola mais de uma vez, encapsulando a disposição de ambos e explicitando suas qualidades (minhas desconfianças são de outra ordem, e disso já falei AQUI).

Quando veio o intervalo, embora Willian ainda não tivesse entrado no jogo (ou sequer na Copa) e Coutinho gozasse (presumo) de uma folga, a faixa central já não era mais o campo minado dos primeiros 25 minutos. Era possível caminhar e correr e trocar passes por ali. Sem medo. E sem tanta pressão.

Não sei se vocês concordam comigo, mas, antes de querer gostar do jogo, os brasileiros devem reaprender a gostar da bola. Foi o que aconteceu no segundo tempo. Desde a primeira etapa, sejamos justos, Willian já buscava a bola, mas ela parecia se ressentir da relação abusiva a que foi submetida nos últimos encontros e trabalhava contra o jogador do Chelsea. Feitas as pazes (o que terá dito a ela no intervalo?), estando de bem com a pelota, Willian pôde, enfim, sair à caça do jogo e — o que é melhor — encontrá-lo.

Foi um bom segundo tempo, coisa que nem mesmo o constrangedor surto epiléptico de Neymar na beira do campo (foi pisado, o mexicano devia ter levado um amarelo, mas que escândalo embaraçoso do brasileiro) pôde obscurecer. O próprio Neymar, não obstante as eventuais recaídas, galgou mais um degrau rumo ao nível que se espera dele, adiantando-se inclusive ao fastidioso Gabriel Jesus para marcar o primeiro gol; na maior parte do tempo, esteve bastante interessado em jogar futebol.

A ausência de Casemiro das quartas-de-final (contra Bélgica ou Japão), amarelado hoje pela segunda vez, é preocupante. A ideia de que Fernandinho (seu provável substituto) “conhece bem” os prováveis adversários por jogar com (De Bruyne) e contra (Hazard, Lukaku) alguns deles é uma bobagem. Nesse nível, todos conhecem todos muito bem. A questão é se o Brasil conseguirá encaixar o jogo desde o princípio. Vinte e cinco minutos de pressão belga talvez cobrem um preço muito mais alto do que hoje auferiu a pressão mexicana. Claro, se não tivermos outra zebra logo mais.

…………

Quem também apreciou a bola (por alguns momentos) foi a Argentina. A derrota por 4×3 para a França foi uma surpresa: dado o caos reinante nas plagas hermanas, imaginava que Mascherano cia. fossem engolir um 4×0, talvez mais. Em uma tarde “ruim”, Messi se despediu da Copa (das Copas?) com duas assistências e seus companheiros quase arrastaram a partida para a prorrogação. Claro que o dia foi de Mbappé, mas esse hábito francês de se desligar do jogo (fruto, talvez, da inexperiência do elenco) talvez lhes custe caro contra o incansável Uruguai. A conferir.

Surpresa foi a Rússia (nunca critiquei) despachar a Espanha. Fato: a Espanha gosta tanto da bola que não sabe mais o que fazer com ela. O que se viu ontem foi uma caricatura do famigerado “tiki-taka”, uma jornada tediosa pelos escombros de um modelo de jogo que nunca me apaixonou (sempre prefiro a verticalidade, a transição rápida, o jogo incisivo, objetivo, assassino). A Copa de 2010 foi uma das piores que vi, e o fato de a Espanha tê-la abocanhado explica, em boa medida, a chatice monumental daquele torneio e a péssima lembrança que tenho dele. Que os espanhóis busquem e encontrem alternativas. Que ao menos se esforcem para manter os espectadores acordados daqui por diante. Em suma, que nos deixem gostar do jogo.

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A Copa do replay

Quinta-feira. Jogo de Copa, mata-mata. O árbitro marca penal para uma das equipes. A torcida, revoltada, começa a atirar objetos no campo, tenta uma invasão. No meio do burburinho e dos palavrões a patuleia urra: “Queremos VAR, queremos VAR!” O problema: o jogo em questão não era da Copa do Mundo, mas da Copa do Nordeste, Sampaio Correa x ABC (a equipe da casa teoricamente prejudicada). Não tem VAR por enquanto em terras brasileiras e, mesmo que tivesse, o pênalti foi bem marcado.

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A patuleia grita: “Queremos VAR!”

A questão aqui é como o tal árbitro de vídeo virou não só uma muleta para torcedores e jogadores, como personagem principal nesse junho de 2018. Tanto que o Brasil vai pegar o México (já em julho) e o que mais se fala do lado de lá é que Neymar precisa ser varilizado. O profe Osório disse que Neymar é kaikai (gostei, Lielson, adotarei). O capitão da equipe tricolor, Andrés Guardado, fez questão de desviar da pergunta feita para teorizar sobre o VAR e Neymar, passar recado para a arbitragem. Fica parecendo que estão mais preocupados com o vídeo do que com o adversário que enfrentarão. E o mais curioso nessa história é que o Brasil até agora não teve nenhuma vantagem com o VAR, pelo contrário.

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Denúncia: querem varilizar Neymar

Enquanto tergiversam sobre o vídeo, não falam sobre a tundra que tomaram da Suécia. Ou como marcarão o endiabrado “Phil Cutinho”, ou sobre como eles sentem perdendo sempre nas oitavas da Copa. Ou se já tem as férias planejadas começando na semana que vem.

Não percebem, usando uma análise psicológica de botequim, que já estão antecipando a própria derrota ao falar em desculpas, não em meios de ganhar. Pois futebol, ainda, se ganha nas quatro linhas e não no replay.

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O que aprendemos com Alemanha e Argentina

por Fernando Jasper

No episódio anterior, em 2014, aprendemos que com planejamento de longo prazo, investimento em escolinhas e um time compactado, de passes rápidos e sem volteios, você pode ganhar a Copa de forma incontestável – e com direito a atropelar os donos da casa na semifinal.

Desta vez, no episódio de 2018, aprendemos que tudo isso pode não servir para nada. Você pode cair logo na primeira fase com duas derrotas em três jogos, a última delas para uma Coreia do Sul virtualmente eliminada. E ver seu adversário da final de quatro anos antes, gasto e anárquico como nunca, avançar às oitavas.

Leia o prospecto, amiguinho: ganhos passados não são garantia de ganhos futuros.

É claro que manter a base que assombrou o mundo quatro anos atrás significa que sua equipe está quatro anos mais velha e manjada. Muita gente boa já havia alertado que a Alemanha, embora continuasse forte e candidata ao título, não era mais aquela coisa. E é lógico que você brinca com o perigo quando seu treinador acha por bem mexer na escalação que dias antes amassou a Suécia e deu ao mundo a impressão de que ôôô, o campeão voltôôô (e, nessa mexida, colocar o Özil em campo).

Sem contar a maldição. Como bem lembrou o colega de Pelé Calado Flávio Izhaki, desde 1998 quase todos os campeões foram eliminados na primeira fase da Copa seguinte. A França sucumbiu em 2002, a Itália em 2010 e a Espanha em 2014. Apenas o Brasil pentacampeão se safou. A questão é que França e Espanha eram virgens nesse negócio de ganhar a Copa e talvez tenham se deslumbrado. E a Itália, uma senhora tetracampeã, nunca foi de abafar na primeira fase, então sua queda não chegou a espantar. Mas a Alemanha, bem ou mal, jamais havia caído tão cedo.

Sei que a estatística e os mapas de calor têm explicação lúcida e irrefutável para o que aconteceu. O que a ciência jamais vai aferir, amiguinho, é o imponderável. O peso da urucubaca. E da sorte. Ardilosa que é, a ciência vai tentar te convencer de que imponderável, urucubaca e sorte não existem, não importa quantas vezes a tevê repita o passe de Toni Kroos para o gol da Coreia e golaço do Rojo contra a Nigéria.

O ranhento fez bobagem? Sem dúvida. Mas os argentinos amotinados estão aí para provar que um técnico às vezes é mera formalidade e não pode ser empecilho para você passar adiante. Muito mais que isso. A Argentina é a prova de que você pode jamais aprender com os erros – e mesmo assim seguir em frente.

Não aprendeu a lição, amiguinho? Não tem problema. Você pode fazer tudo errado e mesmo assim dar certo.

 

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