O que aprendemos com Alemanha e Argentina

por Fernando Jasper

No episódio anterior, em 2014, aprendemos que com planejamento de longo prazo, investimento em escolinhas e um time compactado, de passes rápidos e sem volteios, você pode ganhar a Copa de forma incontestável – e com direito a atropelar os donos da casa na semifinal.

Desta vez, no episódio de 2018, aprendemos que tudo isso pode não servir para nada. Você pode cair logo na primeira fase com duas derrotas em três jogos, a última delas para uma Coreia do Sul virtualmente eliminada. E ver seu adversário da final de quatro anos antes, gasto e anárquico como nunca, avançar às oitavas.

Leia o prospecto, amiguinho: ganhos passados não são garantia de ganhos futuros.

É claro que manter a base que assombrou o mundo quatro anos atrás significa que sua equipe está quatro anos mais velha e manjada. Muita gente boa já havia alertado que a Alemanha, embora continuasse forte e candidata ao título, não era mais aquela coisa. E é lógico que você brinca com o perigo quando seu treinador acha por bem mexer na escalação que dias antes amassou a Suécia e deu ao mundo a impressão de que ôôô, o campeão voltôôô (e, nessa mexida, colocar o Özil em campo).

Sem contar a maldição. Como bem lembrou o colega de Pelé Calado Flávio Izhaki, desde 1998 quase todos os campeões foram eliminados na primeira fase da Copa seguinte. A França sucumbiu em 2002, a Itália em 2010 e a Espanha em 2014. Apenas o Brasil pentacampeão se safou. A questão é que França e Espanha eram virgens nesse negócio de ganhar a Copa e talvez tenham se deslumbrado. E a Itália, uma senhora tetracampeã, nunca foi de abafar na primeira fase, então sua queda não chegou a espantar. Mas a Alemanha, bem ou mal, jamais havia caído tão cedo.

Sei que a estatística e os mapas de calor têm explicação lúcida e irrefutável para o que aconteceu. O que a ciência jamais vai aferir, amiguinho, é o imponderável. O peso da urucubaca. E da sorte. Ardilosa que é, a ciência vai tentar te convencer de que imponderável, urucubaca e sorte não existem, não importa quantas vezes a tevê repita o passe de Toni Kroos para o gol da Coreia e golaço do Rojo contra a Nigéria.

O ranhento fez bobagem? Sem dúvida. Mas os argentinos amotinados estão aí para provar que um técnico às vezes é mera formalidade e não pode ser empecilho para você passar adiante. Muito mais que isso. A Argentina é a prova de que você pode jamais aprender com os erros – e mesmo assim seguir em frente.

Não aprendeu a lição, amiguinho? Não tem problema. Você pode fazer tudo errado e mesmo assim dar certo.

 

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