Coisas belas e sujas

Por André de Leones.

Shaqiri

Esse anão é um gigante, mas não deu.

1. A filha de um amigo estuda em uma escola suíça. Ontem, almoçando em casa no momento em que a TV exibia o clássico SUISUÉ, ele se surpreendeu ao vê-la pular de alegria quando o chute de Forsberg foi desviado e a bola encontrou o gol: Suécia 1×0. Ao que parece, a tal escola alimenta mesmo o amor das alunas pela Suíça.

2. Vi as duas partidas de ontem em bares, coisa que não me atrevo a fazer em se tratando de jogo da seleção brasileira. O Pacheco é o animal mais chato — e deprimente — que existe. Basta-me a vizinha histérica, urrando ignominiosamente com simples cobranças de lateral no meio do campo (não importa se contra ou a favor).

3. Embora alguns amigos tenham reclamado, curti o “clássico” supracitado. Incrível como a Suécia se organizou após a saída de Ibrahimovic. Com um meio-campista talentoso em Forsberg, e ainda que não possua um atacante matador, é uma equipe extremamente difícil de ser batida. Ontem, eles conseguiram isolar Shaqiri na ponta direita e forçar os suíços a insistir em lançamentos estéreis e chutes de longa distância. Estou muito curioso para vê-los contra a Inglaterra. Com Sterling e Dele Alli atuando mal, Harry Kane provavelmente terá de voltar mais e mais vezes para buscar o jogo, facilitando a marcação adversária, uma vez que os outros não têm conseguido se movimentar com um mínimo de inteligência. “Jogo chato”, dirão. Mas, em determinadas circunstâncias, até a chatice tem lá a sua beleza.

4. A Colômbia enfrentou a Inglaterra sem dois de seus melhores jogadores: James Rodriguez, lesionado, nem entrou em campo; Quintero entrou, mas cometeu tantos erros que seria melhor se tivesse ficado de fora. Catimba, reclamações, porradaria: das duas seleções (exceto pelos minutos finais do tempo regulamentar e no decorrer da primeira etapa da prorrogação), só a Inglaterra parecia disposta a jogar futebol. A Colômbia “sujava” a partida aqui e ali, mas nem mesmo isso me pareceu impróprio ou condenável. Tanto que o gol de empate nos acréscimos e todo o estresse do tempo extra e das penalidades máximas não soaram como castigos severos demais para os ingleses. Seja como for, e rompendo com a “tradição” de ser eliminada em circunstâncias assim (jogar como nunca, perder como sempre), a Inglaterra avançou.

5. Anteontem, belo foi o contra-ataque belga que trucidou os esforçados japoneses. A seleção de Roberto Martinez entrou em campo sem a intensidade que se esperava. Com uma defesa lenta e as linhas muito distantes umas das outras, ofereceu campo e oportunidades ao Japão. Em momentos, pareciam disputar não uma partida de mata-mata em Copa do Mundo, mas um maldito amistoso no oco de uma “data FIFA” qualquer. Quando deram por si, perdiam por 2×0. Martinez não pestanejou: colocou Chadli e Fellaini em campo e o time passou a investir desavergonhadamente no jogo aéreo. Alguém (Tata Martino?) disse certa vez  que você só cruza bolas na área quando acabam as ideias. Não penso dessa forma. Dadas as circunstâncias, e levando-se em conta o adversário (Japão, nanicos), foi a melhor saída. Ademais, é interessante notar que a virada se consumou não com outra bola vadia vindo do alto, mas com um contra-ataque velocíssimo e feroz, desde as mãos de Courtois até o arremate de Chadli, quando os japoneses pareciam crentes de que a prorrogação era incontornável. Ou seja, as ideias não tinham acabado.

6. Ainda sobre o terceiro gol belga: bela também foi a ação de Lukaku ali, seu posicionamento engolindo a defesa e permitindo a infiltração de Chadli (a quem assistiu com um toquezinho maroto).

 

Sobre André de Leones

Escritor.
Esse post foi publicado em A Copa-em-si. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário